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Mergulhar


Sempre tive medo de água, rios, lagos e mares. Medo de cair e afundar, não sei nadar.


Mesmo estando em um barco com segurança, apenas de olhar para as águas já me causava medo, imagino o que há lá embaixo, o que eu veria caso viesse a cair. Sempre imaginei monstros e escuridão.


Depois de refletir sobre as causas deste medo entendi que não são as águas que me atormentam, e sim o medo do desconhecido, por isto nunca quis fazer mergulho.


Mergulhar pode te trazer muitas surpresas, boas e sobretudo, as não tão boas. Creio em um Deus que me ama e me fez com um desejo imenso de busca pela verdade, pelo entendimento e conhecimento de quem eu sou.


Este foi um dos anos mais difíceis dos últimos que passei. Em todo momento sendo provada em minha identidade e sobre quem eu sou, uma força me empurrando para um empoderamento que muitas vezes não entendi e não alcancei, no trabalho e em casa.


O medo de mergulhar não foi observado quando este Deus me levou a um mergulho muito mais profundo e enriquecedor. No oceano da minha alma, vi não apenas a mim mesma, meus medos e traumas, vi minha ancestralidade, e esta foi a maior de todas as experiências, conhecer e entender a minha história me levou a um autoconhecimento tão profundo que ainda tenho dificuldade de voltar à superfície.


Compreendi de onde vinham as dores e fraquezas, os medos e insegurança, traumas que não podem passar despercebidos, vividos por entes queridos que já não estão mais aqui, mas que deixaram suas marcas em meu DNA.


No profundo da minha alma entendi que todos merecem pertencer, não importa a circunstância, todos são vistos pelo Criador e precisam ser incluídos de forma digna e amorosa.


Entendi que tudo é movido pelo amor, um amor que as vezes cura e outras adoece. Por amor achei que uma criança poderia proteger sua mãe, por amor achei que um filho precisava morrer com o pai, mas por amor escolhi seguir em frente, por amor entendi que primeiro preciso aprender a cuidar de mim para depois cuidar do outro. Entendi que quando olho para mim dou oportunidade para que o outro siga seu caminho sabendo que sou adulta e ficarei bem.


Por amor abri mão da mágoa para reconhecer que sou pequena e não posso julgar qualquer pessoa, pois cada um sabe e conhece as dores e traumas que o fizeram ser como é.

Reconheci o quanto meus pais, avós e bisavós são grandes diante de mim e o quanto posso ser forte através da presença deles em meu coração.


Mergulhar em si mesmo é um risco que precisamos correr, pois ao me deparar com a realidade de que viemos sozinhos a este mundo e em grande parte do percurso estamos sós, quase me levou a um afogamento, por medo. Este medo vai se dissipando à medida que percebo que tenho os recursos e equipamentos necessários para me manter viva embaixo das águas ou sobre elas.


Estes recursos e equipamentos vem de meus antepassados, que me entregaram tudo que eles tinham e estes foram suficientes, mais que isto, tenho um Deus que me ama e não me deixa jamais, trás pessoas para me abençoar e cuidar.


Agora é hora de voltar à superfície, abrir os olhos para os perigos e beleza da profundidade me deixará lembranças de uma experiência única e particular que levarei para o alto. Todas as situações vividas são para amadurecimento e fortalecimento, para que a próxima fase seja vivida em toda a sua intensidade.

Com amor e gratidão.


Daniela Lucia Xavier

Dez/2017.


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